quinta-feira, 8 de março de 2012

Stº Dimitri ou do quarto/quinto dia de trabalho

“Amanhã, nós vamos trabalhar com as crianças”. Essa frase desestabilizou muita gente. E, para completar, era às 9h30min. Sabe as únicas coisas que funcionam em mim às 8h da manhã? Sono e fome. A experiência com as crianças do outro lugar não tinha sido boa, mas esperança é a última que morre...
Pegamos o metrô cedo e saímos. Estávamos quase uma hora adiantados andando pelas ruas cinzentas e frias de Bucareste. Pra variar, nos perdemos, ou melhor, Raluca não sabia como chegar lá e nos perdemos. Ela ligou para Irina, que descreveu o lugar, a rua e tudo o mais e disse que, quando chegássemos na rua, encontraríamos uma casa azul. Quase uma hora depois, chegamos no lugar: uma casa branca com janelas azuis. Quer dizer, se eu estivesse sozinho, iria dizer “não é aqui. Ela disse que a casa era azul”.

Primeiro choque: organização. O lugar é extremamente organizado, organizado e organizado. As pessoas demonstram ter seus papeis extremamente estabelecidos e esclarecidos, como se cada um soubesse o espaço de cada qual. Os horários de refeição são respeitados e cada coisa tem seu lugar e modo de ser feito. Além disso, as coordenadoras são muito presentes nas atividades, além de sempre instruir os estudantes muito bem, ao meu ver. Até ao dar uma dura nos estudantes, elas fazem de um jeito suabilíssimo.

No primeiro dia, fizemos uns jogos de grupo com eles e apresentamos nossos países e nossas culturas. Eles nos sugaram. Perguntaram tudo e mais um pouco. Se engajaram nas atividades e tudo o mais. Lindo foi ver todo mundo, inclusive a coordenadora que só usa saias super longas, botas longas, camisas de manga comprida (toda roupa em tons escuros) e cabelo sempre preso (quase uma freira) dançar bolimbolacho. Mais lindo ainda foi Raluca traduzindo “o corpo suado, desliza as mãozinhas” como “reunindo toda a energia”.

No segundo dia, pedimos a eles para se separarem em grupos e escolher alguma coisa que eles quisessem apresentar para nós sobrea cultura deles. Vocês acreditam que rolou até teatro com direito a figurino e cenário??? Eu quase chorei de felicidade com essas crianças. Outros grupos falaram de arte, comidas e música. Foi muito bom!




Na saída de lá, uma das coordenadoras veio até nós e agradeceu várias vezes pela nossa disposição, pelo trabalho e disse que é maravilhoso conhecer a cultura de países tão distantes através de nós e falou da importância disso para as crianças. Obviamente, as mesmas lágrimas que estão me entalado agora, me entalaram no momento que ela disse isso. É muito bom se sentir útil.

De tarde (na quinta), fomos ao outro SOS. O dia não poderia ter sido melhor. Apresentamos nossos países, como era o foco da semana, depois tivemos um bate-papo com eles e fizemos algumas atividades. Eles se empenharam bastante na atividade e demandaram um monte de nós. Eles querem que, um dia, façamos um dia de culinária típica. Parece que as coisas serão bem interessantes.

Do terceiro dia de trabalho

Fomos ao SOS de Mundi. Como a nossa recepção lá não foi muito boa e a experiência do dia anterior não foi lá essa maravilha, estávamos um pouco mais apreensivos do que o comum. Para a nossa surpresa, eles pareciam estar também, como se estivessem prontos para nos sondar e saber porquês estávamos lá. Apresentamos sobre os nossos países e ensinamos a eles algumas danças. Eu simplesmente amo a dança que Erin ensina. É uma dança formal indonésia e é algo como oração e pedido de proteção e graça a Deus. É linda. Eles tentaram e se acabaram de rir porque a dança é complicada pra caramba. Depois, era minha vez. No da anterior, eu quebrei bem a minha cabeça. Bem, eu não gosto (mais) da música de Michel Teló, não sei dançar forró, lambada, salsa ou afins... O que eu poderia fazer? Bom, a ideia não me agradou muito, mas eu gosto e acho engraçado, então, fiz minha escolha: vou ensinar pagode!!!! Cá entre nós, fiz uma boa escolha. Baixei “Bolimbolacho” que é uma dança tranquila, sem coisas sexuais e é engraçada. Resultado: TODO MUNDO adorou. Erin não para de cantar (do jeito dela, é claro) e Irina tá falando em fazer dessa música o nosso roll call.

Depois, era a vez deles nos ensinar algum música ou dança. Eles nos ensinaram danças típicas da Romênia e, a mais curiosa parte: eles nos ensinaram danças ciganas. Aqui, na Romênia, os ciganos são bastante discriminados ( no Brasil, eles também são). Por isso, achei bastante curioso e interessante. De fato, esse é meu primeiro contato verdadeiro com algo da cultura cigana. Difícil foi sair de lá. Eles não paravam. É bastante interessante ver o resultado de algumas horas de trabalho quando você demonstra querer saber mais sobre uma pessoa e sua cultura. Eles estavam sedentos por mostrar o que eles têm de único e especial.

Do segundo dia de trabalho

Tentarei ser breve.
Na terça, fomos para o Stª Maria. Esse é o orfanato no qual trabalharemos todas as segundas e terças. Nele, só moram meninas e aquelas com as quais trabalharemos têm entre três e 15 anos.

O primeiro problema que enfrentamos já era esperado: as crianças são muito carentes. Elas já vieram nos abraçando, falando sem parar e não largavam quem eles abraçavam. Mas esse não era o problema. O problema, de fato, é que todo mundo cedeu, menos o cara que dizem ter gelo no lugar do coração: eu. Pode parecer maldade, frieza ou qualquer coisa parecida, mas eu sei que, nesses casos, além de carinho e afeto, eles precisam de organização e disciplina, e eu agradeço à minha mãe e às professora Rejâne, Rosiemere e Yukari por isso. Meio mambembe, fizemos nosso trabalho e, ao final, todos estavam exaustos e deprimidos, um, porque trabalhar com esse público nos faz nos sentirmos impotentes diante de tudo aquilo que elas demandam, dois, porquê a seção foi um fracasso. Eu, todavia, sai contente, porque elas estavam super interessadas em saber mais sobre o Brasil e Indonésia, então, acho que nós deixamos alguma sementinha na cabeça delas, algo nosso.
Depois, Raluca nos convidou para sair. Fomos para um dos poucos lugares no qual fumar é proibido. Dá para imaginar que lugar é esse, não é? Era uma casa de chá!! Eu simplesmente adorei o lugar. E olhe que nem sou fã de chá. Mas o lugar é lindo, limpo, cheiroso, agradável, com uma linda música de fundo, gente bonita e elegante... Peguei um chá de frutas roxas e uma torta de frutas silvestres naturais da Romênia e brinquei de ser feliz.


A torta.


Raluca, que não dá ponto sem nó, começou a trabalhar conosco. Ela é do time de gestão de treinees e a função dela é garantir que tenhamos a melhor experiência possível.  Ela fez duas bombásticas e simples perguntas: vocês perceberam que vocês só têm mais quatro semanas aqui? Vocês já planejaram tudo o que querem fazer?
Sério: fiquei meio minuto em silêncio e choque.

Peguei um papel e comecei a escrever TUDO o que eu queria fazer aqui. Escrevi em português, porque eu sou lindo. Discutimos um pouco e... perdemos o metrô.
Vocês não sabem, mas, Erin, Ruri e eu somos mestres em perder o último metrô. Sorte nossa, aqui, taxi é baratíssimo. Fomos pro hotel e eu fiz o que mais detesto: abri o excel. Programei minha vida até o dia 24 de março, que é o dia do meu retorno a Salvador. Isso vai ser legendário.

Do primeiro dia de trabalho

Bom, não foi bem “primeiro dia de trabalho”. Irina nos chamou para conhecer dois (dos quatro) lugares que trabalharemos: o SOS Sateca Capiilor. Lá, estão jovens que, ou não têm pais, ou tem pais muito pobres que não podem cuidar deles. Eles moram no lugar (são quartos separados) e estudam (escola ou faculdade). Foi um ótimo primeiro contato. Nós estávamos (como eu acho que é normal) bastante apreensivos. Limite de língua, diferenças de modo de pensar e tudo o mais. 

O primeiro lugar que visitamos foi o SOS Sateca Capiilor de Obor. Eles nos receberam SUPER BEM. Tudo bem, só tinham quatro pessoas lá, mas eu gostei. Eles tinham entre 16 e 20 anos e estavam sedentos de informação sobre nós. Aproveitamos para saber as expectativas deles. De praxe, eles me fizeram dançar “assim você me mata” (não suporto mais essa música).

O segundo lugar, foi o SOS Sateca Capiilor perto da Piaţa Mundi. Eles estavam em maior número e quase não nos deixaram falar. Foi (e acho que será) um desafio trabalhar com eles. Um deles não parava de perguntar sobre os atributos das mulheres brasileiras e o quarto dele foi o único que não conhecemos porque ele disse que as paredes estavam cheias de fotos inapropriadas para as meninas que do grupo (fica a dica). Além disso, eles comentaram sobre a prostituição aqui e falaram que eu ia adorar as mulheres romenas. Exaustos, fomos para o hotel preparar o trabalho para o dia seguinte: Orfanato Santa Maria.


SOS Sateca Capiilor de Obor

Dos TTT

TTT significa “Training to Trainers”, em outras palavras, é um treinamento que o pessoal da Aiesec Bucareste dá a pessoas que treinarão outras pessoas. Foram quatro dias (15-18/02) de muito trabalho e sofrimento. Sofrimento porque, todos os dias os treinamentos começavam às 8h da manhã, o seja, tínhamos que acordar bem cedo, e os treinamentos terminavam 20h ou 20h30min. O espaço de almoço era de uma hora e foi uma correria enlouquecida.

Apesar da exaustão, tive seções maravilhosas. No primeiro dia, as coisas forma mais focadas em como se comportar diante da audiência, body language, contato visual, diferenças culturais, aceitabilidade das diferenças e percepção de pontos em comum entre as culturas. Para mim, isso foi particularmente fácil. Com as minhas experiências de vida e depois de um ano trabalhando na Aiesec Salvador, eu já tive tempo (e experiências) o suficiente para perceber que todas as culturas sempre serão diferentes, mas sempre terão pontos em comum e é no que é comum que podemos nos entender e é no diferente que podemos construir coisas maravilhosas.

O segundo dia de treinamento foi mais focado em como devemos planejar as seções e nossos trabalhos, como trabalhar com o público, técnicas para tentar envolver o público, mas o foco foi mais em planejamento, por isso, foi bem mais chato.

 





Mas era sexta-feira, então, vamos para um pub! Fomos. Rimos um monte, cantamos, gritamos e alguém disse “já são 2h! Amanhã, temos que acordar cedo!”. E outro disse “pra quê dormir?”. Mas eu não sou louco nem nada, fui lindo pro meu hotel tirar minhas merecidas e parcas horas de sono.




No dia seguinte, foi mais relax. Começamos às 8:30min e a oficina foi com uma psicóloga que trabalha em psicooncologia. Ela falou das dificuldades e dos prazeres de trabalhar com crianças em situações delicadas além de falar de algumas teorias de desenvolvimento e técnicas que poderíamos usar com as crianças no orfanato no qual trabalharemos. Em seguida, veio uma psicóloga que trabalha com arte e nos ensinou a fazer algumas coisas que poderemos ensinas às crianças. Depois, ela nos contou uma lenda de Mărţişoare e da tradição aqui na Romênia.

A lenda fala que, um dia o Sol tomou forma humana e resolveu caminhar em uma vila. Perto dessa vila, morava um dragão que ficou com inveja do brilho e do calor do Sol. Por isso, ele capturou o sol e o fez prisioneiro. As pessoas do vilarejo ficaram muito tristes porque não tinha mais o sol para iluminá-las. Assim, um guerreiro bravo e destemido (e ela fez questão de dizer que ele era muito bonito) resolveu ir salvar o Sol. Ele caminhou durante o verão, o outono e o inverno (não sei como as estações existiram sem o Sol, mas...) até chegar na caverna na qual o dragão morava (Caverna do Dragão – tum-tum-pá!). Lá, ele lutou bravamente contra o dragão, venceu e libertou o sol, mas, ele foi gravemente ferido e morreu. Seu sangue se misturou com a neve e, dela, nasceram as Snowdrop, que são as flores que simbolizam o início da primavera e Mărţişoare. Daí, criou-se um hábito (que eu não sei a conexão) dos homens presentearem as mulheres que amam ou admiram. Na Moldóvia, são as mulheres que presenteiam os homens.
O Mărţişoare é comemorado no dia primeiro de março, por isso, resolvemos ensinar as crianças a fazerem seus presentes.


No último dia de treinamento (domingo), tivemos uma seção com um psicólogo que trabalha num dos centros sociais que iremos trabalhar. Foi, de longe, a melhor seção. Ele nos fez nos sentirmos como se fôssemos as crianças e adolescentes com os quais trabalharemos. Foi uma manhã punk! Todo mundo saiu calado e reflexivo, menos Erin que se apaixonou pelo facilitador da seção. Aliás, isso virou motivo de piada (hehehehehe).
Depois, tivemos uma simulação na qual apresentamos uma das nossas seções planejadas. Resultado, cheguei morto no hotel e não quis saber de festa nenhuma.

Dos dias 14 e 15


Ainda no dia 13, me chamaram para uma guerra de neve no dia seguinte.  No dia 14, depois de uma conferência intensa, o que todo mundo queria era uma cama fofinha e um chocolate quente. Eu não: quero é mais. Cheguei no hotel, tomei um banho, comi alguma coisa e corri para a noite. Foi a noite mais engraçada do mundo. Vi meninas serem lançadas no meio da neve e serem soterradas por várias mãos, vi gente distraída comendo neve, vi nada porque havia neve no meu olho, mergulhei na neve... Resultado 1: tinha neve até dentro da minha cueca. Tive que tirar o sapato para tirar as pedras de gelo que havia dentro dele. Resultado 2: faz mais de uma semana que estou resfriado. Depois disso, fomos a um café, tomar algo que nos esquentasse o sangue. Cheguei tarde no hotel e fui dormir.

Tá frio?



Brincando de nadar na neve. =)


No dia 15, Ruriana (da Indonésia – Enrole bem os dois ‘r’) chegou. Ela está aqui para trabalhar no mesmo projeto que eu: o C.H.A.N.G.E. Fomos recepcioná-la no aeroporto. De lá, pegamos ônibus e metrô para chegar ao escritório da AIESEC, onde deixamos a mala dela para irmos almoçar. Eu não sei como a mala dela consegue ser menor que a minha e ter quase o dobro do peso. Coisas de mulheres... (hahahahahahaha)

A neve ainda estava alta, mas foi tudo bem. O almoço foi tranquilo e começamos a nos conhecer. Rimos um bocado, conversamos mais ainda. É muito bom saber que existem muitas pessoas legais espalhadas pelo mundo, mas melhor ainda é saber que você pode encontrá-las um dia. Na volta para o hotel, olhei pro céu (o que, aliás, é um hábito meu). Havia uma quantidade inimaginável de pássaros fazendo o estardalhaço. Pela segunda vez em uma semana, me senti num filme, só que, esse era um daqueles em que o mundo vai acabar e os animais começam a se comportar de forma estranha. Mas tinha que correr porque o semáforo estava aberto e eu não queria virar panqueca aqui em Bucareste. No hotel, Ruri mostrou a infinidade de coisas lindíssimas que ela trouxe da Indonésia. Uma coisa mais bonita que a outra. Até ganhei presente!! =)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Da Conferência BucaViena


Quem disse que despertador me acordou? Que disse que as três ligações de Sandi e as duas de Irina me acordaram? Só acordei às 6h40min com Erin batendo na minha porta. Arrumei a minha mochila na velocidade do som. Às 7h, saímos correndo para a estação de metrô, que, a propósito, fica na frente do meu hotel. Chegamos na estação à tempo, mas Irina já tinha nos ligado umas quinhentas vezes. Obviamente, não seria tão fácil!! Saímos pela saída errada. O ônibus estava nos esperando na frente da outra saída. Mas, o que há de melhor para a saúde do que uma excelente caminhada matinal sobre um monte de neve? Corremos desesperadamente para achar em que cargas d’água de lugar estava o ônibus estava. Entramos, pedimos desculpas e sentamos. Tentei dormir, mas minha relação com sono só não deve ser pior do que a com ônibus. Fiquei enjoado. A conferência, que reunia os Escritórios (LC = Local Comitee) de Viena e Bucareste aconteceu numa cidade chamada Vălenii de Munte e aconteceu entre os dias 11 e 14 de fevereiro.

Foram quatro dias de puro aprendizado. Eles prepararam diversas seções que variaram entre reflexão e compartilhamento de conhecimento. Vocês precisavam ver. Eu estava exausto, mas não tinha como não participar. Havia seção sobre como organizar sua vida, como aliar os seus picos hormonais diários com momentos de trabalho e de diversão... Foi MUITO bom. Além disso, vi diferentes formas de trabalho, tanto do pessoal de Bucareste como do pessoal de Viena.

Outro ponto bem legal foi ver cooperação deles. É uma coisa incrível. Dá para sentir no ar o afeto e certa gratidão de um CL para o outro, além da gratidão das pessoas de ter os facilitadores ali dando o máximo para nos instruir ao máximo.

Infelizmente, o quartos tiveram problemas com o aquecedor (post anterior) e resolveram brincar de iglu, mas só foi no primeiro dia (graças a Deus!!!).

O quarto (e a neve caindo).

Todos os dias teve festa (não haveria de ser diferente). No primeiro dia, o tema foi Global Village. Tivemos comidas e bebidas típicas da Romênia e de Viena, além de comida da Turquia também. Experimentei um chocolate austríaco que eles colocavam dentro de uma bebida alcoólica e, depois, tacavam fogo. Imagine você com uma bola de chocolate incandescente num palito de dente e todo mundo gritando “come!!”! Eu achei que ia queimar minha boca, mas foi de boa. Além do mais, foi engraçado. Ainda tive fôlego para experimentar umas bebidas aqui e outras ali. Aqui na Romênia tem uma tal de palinca, que, meus irmãos e minhas irmãs... Deus benza! Arde até a alma.


                                   Maya (Japão)                                Siddik e Erin (Indonéisa) e Maya

Eu, Maya e Edynaldo 

No segundo dia, não parava de nevar, já era o segundo dia ininterrupto (videozinho). Durante uma das seções, uma menina chegou com o cabelo congelado e com neve até as fuças. Perguntaram a ela o que aconteceu e ela, calmamente disse “as estradas estão oficialmente bloqueadas. Ninguém vai e ninguém volta”. Essa foi a primeira vez na vida em que me senti em um filme de terror, sabem? Aqueles filmes clássicos que uns idiotas quaisquer ficam presos em um vilareijo desconhecidos e morrem por conta de algum ser imortal e imbecil que só mata pela vontade de matar? Pois! Me senti assim. Olhei para a cara da vice-presidente de gestão de talentos e ela me deu um sorriso cândido como que dizia “não se preocupe. Tudo ficará bem”, mas eu fiquei com meu coração na mão. Na noite, o tema da festa  foi Zen, mas eu estava cansado demais para ficar zen, por isso, só fiquei umas duas horas. Ah! Vale salientar que eu fui o único trainee que restou na conferência (pelo menos, que eu me lembre). Todos haviam voltado à Bucareste.

Nevando! (^.^)

Na terceira última noite, foi massa. Antes da festa, a delegação de Bucareste fez um vídeo para homenagear a delegação de Viena. Foi fofinho.  O tema da festa foi Semáforo e eu bem sei que vocês sabem dessa festa*. O curioso é que, até agora eu não sei o que me surpreendeu mais: eles terem esse tema de festa ou, MAIS DA METADE DA GALERA estar de verde. Eu dei boas risadas. Estavam tentando me fazer entrar no kissing competition, mas eu detesto esse tipo de alarde e fiquei bem bonitinho no meu canto só registrando as coisas. Mas, eu não sou santo, nem estou me aplicando para esse tipo de vaga... Não sei se vocês já participaram de um boat race, por isso, vou explicar. Essa uma competição entre dois times, cada um com quatro pessoas. Todos ficam com os polegares e os queixos na mesa e com um copo de bebida alcoólica (foi cerveja) em frente do nariz. Ao sinal de um dos juízes, um de cada time bebe o mais rápido que puder e, ao final, põe o copo na cabeça e cutuca o colega do lado que deve repetir o processo. Todo mundo bebe duas rodas (ADORO o vídeo abaixo). Meu time estava sobrando. Na verdade, as meninas do meu time só fizeram time comigo por que eu queria participar. O fato é que virei lenda aqui por virar o copo mais rápido da história (mas meu time perdeu).


No dia seguinte, tivemos mais seções e o momento de agradecimentos de uma delegação para a outra. Foi bem legalzão!!! Além disso, na AIESEC, temos a tradição do sugar cubes, que são envelopes com o nome dos participantes nos quais você queira deixar recados que você não quis ou não teve tempo de dizer. Eu achei que nem ia ter nada no meu, por isso, vocês podem ter ideia de quão feliz fiquei quando li vários recados extremamente carinhosos de várias pessoas. Enfim, sou um homem de sorte.

Depois, rumamos para o ônibus. Estava bem gelado e com neve por toda a parte, mas não nevava mais. Tirei umas fotos legais.


Isso costuma ser um rio.

As motanhas que ainda vou visitar um dia.

A paisagem depois de alguns dias de pura neve.

O menino da Macedônia não estava mais no meu quarto quando voltei. Agora, estou dividindo quarto com Mert, da Turquia. Ele é um cara legal e tranquilão.



* Se você está lendo essa parte é porque: 1) Não tem vergonha na cara; 2) É bem inocente. A festa do Semáforo ou Sinaleira (ou como queira chamar) é uma festa na qual as pessoas se vestem com as cores do semáforo. O vermelho significa PARE (a pessoa está comprometida), o amarelo, ATENÇÃO (ou a pessoa está enrolada ou ela não está tão para jogo assim – Essa foi minha cor, a propósito) e verde significa SIGA EM FRENTE (ou seja, pode vim quente que eu estou fervendo, tô pra jogo ou outras figuras de linguagem que lhes agradarem)

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Meu Reino Por Um Banho Quente

Acho que poucas pessoas sabem que eu não gosto de banho quente. Parece que você está tentando fazer sopa de você mesmo... O ruim é que aqui, está muito frio... Fiquei numa cidade perto de Bucareste (em coferência, posto depois) e meu quarto estava com problema no aquecedor e ele estava bem fraquinho. Não tinha água quente nem para lavar as mãos. Fazia mais de 24h que eu não tomava um banho e eu estava me sentindo imundo. Ai, eu disse: “Coragem, Bruno!! Homem que é homem toma banho com água de qualquer jeito!” Ai, eu me enchi de coragem tirei a roupa, rezando a cada peça, e entrei no box. No que eu abro o chuveiro, começou a sair água por pela outra entrada (como se fosse uma torneira, na altura da minha cinturas - os chuveiros aqui são assim...). Ai eu disse em alto e bom som “Ai também é muita sacanagem!”. Rodei todos os lugares, debaixo da neve que caía, procurando algum lugar no qual eu tivesse algum banho descente. Por sorte, encontrei Irina e ela me mandou tomar banho no quarto dela. Foi um alívio sem tamanho. Eu me senti a sopa mais limpa do mundo. O ruim foi sair do quarto dela para vir para o meu dormir. 

A neve caindo tão bonitinha...

...deixou tudo assim.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Do Segundo Dia e da Festa de Recepção

Acordei às 9h. Erin e eu tomamos café da manhã juntos. Tinha fruta: mamão, abacaxi e outra que eu não faço ideia qual. Porém, todas tinham o mesmo sabor. Erin disse que, provavelmente, elas foram cozidas juntas com açúcar. Coisa estranha. Depois, fomos para o quarto e eu dormi mais um bocado. Às 13h30min, nós tínhamos um city tour por aqui. Daiana, a buddy de Erin, veio aqui. Ela é meio louca e vocês sabem que eu já gosto de gente assim. Conversamos um bocado. Por enquanto, só tenho encontrado gente que acha português legal e quer aprender a língua. Ela disse que nos levaria para o lugar no qual deveríamos encontrar o grupo. Saímos por volta das 13h para pegarmos o metrô. Quando chegamos à estação combinada, o grupo tinha se movido. Lá fomos nós atrás deles. Rodamos um monte, perdidos-da-silva, até que conseguimos encontrar o grupo e fomos andando para o museu que deveríamos visitar (já era quase 15h). Dana estava à frente do grupo e ela me parece ser super gente fina. O museu cobrava 8 lei (o singular é Leu e significar “leão”) e estava expondo, ao que me pareceu, alguns artigos do tempo da mornarquia que havia aqui. Eu pedi licença ao meu lado cult, mas, depois de andar uns vinte minutos numa floresta de neve, com a fome que eu estava e com o frio que sentia, eu não queria saber de monarquia nenhuma. Na verdade, dei até uma olhada nas coisas que estava mais externas e, me parece que, monarquia é tudo igual. Sempre as mesmas medalhas parecidas e sem sentido que eles criavam para se sentirem importantes... Enfim, o mais legal mesmo foi o restaurante que almoçamos. Acreditem, NUNCA vi algo mais sofisticado do que aquilo. Quando chegamos, tinha pessoas tocando violino. Tudo era extremamente refinado, a estrutura em madeira e riquíssima em detalhes. Almoçamos um prato tradicional que eu, nem que tivesse me esforçado muito, saberia dizer o nome. Só sei que me lembrou o Rumpunspelstinsqui (que eu também não faço ideia de como se escreve).


O Lugar super potentoso (tava escuro demais para pobre câmera do meu celular).

O prato com nome grande.


Em seguida (lá para as 17h), voltamos para o hotel. Para hoje, estava marcada Trainee’s party, mas sinceramente, eu não estava com vontade nenhuma de ir. Só queria dormir. Erin, a mesma coisa. Ela só foi porque Sandi veio pegar a gente. Alex apareceu por aqui também. Ele é bem legal. Não fuma e disse que gosta muito de wiskey. Ele sabe até como é a capoeira e disse que gostaria de aprender um dia. Uma coisa muito engraçada que aconteceu enquanto eles estavam aqui foi que eu perguntei, como quem pede licença, se eu podia escovar os dentes. Sandi, irônica como sempre, disse que eu não podia e que as pessoas na Romênia não escovavam os dentes. Alex, com toda a sinceridade, falou “se bem que a gente não tem o hábito mesmo”. Eu só me lembrei de Ciro,a migo da AIESEC que também está fazendo intercâmbio aqui, mas não em Bucareste. Uma vez ele postou no facebook algo mais ou menos assim: “Me digam uma coisa, tártaro pega?”.
Na festa, dancei um bocado, ri um monte, me senti deslocado também, como aconteceria em qualquer lugar no qual eu não conheço as pessoas. Para minha tristeza, aqui não para de tocar a zorra da música do Michel Teló. Eu não sei que diabos viram nessa música que gostaram tanto. Em breve, vão começar a dizer que ele fez pacto com o lá ele, que a música tem uma mensagem sublinar, que de traz para frente, tem uma mensagem olcuta ou algo do tipo que sempre fazem com as coisas que estão tendo sucesso. Mesmo assim, não gosto mais da música. A única coisa que gosto é que me lembra Luiza.
As meninas fizeram uma apresentação com fotos de cada treinee e eu, obviamente, procurei um buraco para enfiar minha cabeça. Não achei. Depois disso, dancei mais um monte, até que lembrei que, no dia seguinte, eu deveria estar, às 7h30min, na estação Piata Victoriei. Voltamos de taxi para o hotel. Já era mais de 3h.

(As fotos, quanto eu as conseguir, postarei no Facebook.)

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Do voo para Bucareste e da minha chegada

A primeira coisa que devo dizer é: a aeromoça que me recepcionou era tão bonita, mas tão bonita, que eu demorei a perceber que ela estava falando em romeno comigo.
O voo foi chato. Eu estava com sono, o avião na era bom e era muito quente dentro dele. O serviço de bordo também não era lá essas coisas. Essa foi a primeira vez em terras estrangeiras que eu comi alguma coisa que eu não sabia o que era. E nem queria saber. Os cafés que eu tentei até agora são péssimos: tem cheiro ruim e gosto de nada. Espero que, em Bucareste, haja café de verdade.
Uma coisa muito curiosa que me aconteceu foi que, quanto ainda sobrevoava a Espanha, eu podia ver pela janela do meu vizinho de banco, o chão uma hora marrom, outra esverdeada. O avião subiu ainda mais e eu só via o branco das nuvens. Parecia um enorme e lindo tapete branco. Muitas horas depois (foi o que me pareceu, mas o voo teve no total umas 4h), o avião descia e descia e eu não entendia porque as nuvens simplesmente não desapareciam...
Vocês já podem imaginar o porquê...

Quando eu desci do avião, vi, pela primeira vez, a neve. Não estava caindo em floquinhos como nos filmes de Natal que a gente assiste. Estava numa camada super grossa no chão. Tinha sido removida de pontos estratégicos para que os voos continuassem sem problemas.

Eu já estava vestindo os meus casacos (três por cima de uma camisa e uma segunda pele). Acho que pelo pouco tempo de exposição, estava tudo de boa. Peguei o ônibus e fui para dentro do aeroporto. Troquei algum dinheiro (depois, me disseram para nunca trocar dinheiro no aeroporto. Fica a dica) e fui, serelepe, radiante e contente, pegar minha mala.
A pergunta que não quer calar: CADÊ A MALA?
Perguntei a um rapaz, mas ele não falava bem inglês. Ele perguntou “turkish?” e eu não faço ideia do que ele quis dizer. Ele apontou para uma agência e fui lá procurar minha mala. Eles me mandaram para a outra (do outro lado do saguão do desembarque) e, lá, eles procuraram. Por algum problema, a mala estava em Madrid e deveria chegar no outro dia. Peguei o papel com a queixa e saí.
Lá fora, para me recepcionar, estavam Irina, Sandi, Raluca, Cati (de Bucareste, todas) e Irene (ou Erin, como ela prefere) que é da Indonésia e vai trabalhar no mesmo projeto que eu. Elas estavam com gliter amarelo no cabelo porque tentaram pitá-lo de verde-e-amarelo. Não funcionou. O cabelo ficou com a mesma cor, duro com o produto e cheio de gliter.
Na ordem: Irina, Raluca, Sandi e Erin.
Elas me compraram um cartão e eu liguei para minha mãe, que já estava pondo um ovo de tanta preocupação (como sempre). Depois, elas ligaram para o número que a moça da agência tinha me dado para que eles levassem a mala para lá quando ela chegasse.
Elas olharam para minha roupa (que eu achava que estava super de boa) e perguntaram se eu tinha alguma mais grossa na mala. Quando eu disse que não, elas foram categóricas “You will not survive”. Eu ainda fiquei tirando onda dizendo que eu não tava sentindo frio. Mesmo assim, elas me fizeram colocar toda roupa que eu tinha. Fomos comer num fest-food e eu comi frango com batatas fritas e beterraba. É tão bom comer comida que eu acho na minha terra... Principalmente a beterraba, que era uma coisa que eu não esperava encontrar aqui.
Fui pro quarto com a certeza de que iria dormir como uma pedra. Leigo engano. O quarto era beeeeem quente por conta do aquecedor central. Só lembrei dos meus amigos e amigas que disseram que eu nunca mais ira reclamar do calor.
Um adendo importante: estou atrasado nas postagens porque eu não tinha uma adaptador de tomada e, agora que tenho um cabo, estou sem internet.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Do Meu Desespero no Aeroporto de Madrid

Vivis é uma pessoa que já viajou para muitos lugares do mundo, mas, apesar disso, não sabe achar o voo dela no painel (hahahahahaha). Mas, eu até a desculpo. Eu na minha linda inocência, achei que o aeroporto de Madrid seria que nem o de Salvador, por isso estava super tranquilo. Eram 12h12min (horário local) e eu deveria embarcar às 12h30min, mas como, obviamente seria perto... HA-HA-HA na minha cara!
Perguntei a um guarda civil do local onde era o meu portão, ai ele falou “lá em cima”. Beleza, subi. Olho o painel, nada de meu voo. O relógio já marcava 12h15mim, quando achei um balcão da minha companhia aérea. Graças ao Divino Espírito Santo, o moço falava português. Ai ele me disse: “Você vai sair daqui, pegar um ônibus até o terminal 4 e, lá, você pede informação. O ônibus é de graça”. Meus irmãos e minhas irmãs, quando ele falou “sair” e “pegar ônibus”, meu coração bateu no pé. Corri para fora, perguntei um espanhol cafajeste onde era o ponto a uma transeunte, e ela apontou para o ônibus que estava parado. Eu nem pensei, entrei e perguntei ao motorista se passava no terminal quatro. Ele disse que sim, mas que aquele ônibus não era o gratuito. Quem queria saber???? A passagem era 1 euro e 50 centavos, mas eu não tinha trocado: paguei com 20 euros. Ele, obviamente, chiou. Disse que não tinha e tudo o mais. Ai eu perguntei “como podemos fazer?”. Do nada, ela achou troco. Eu ia descendo do ônibus quando ele falou “Não, esse é o terminal dois”. Depois de alguns minutos, chegamos numa plataforma compleamente deserta e sem nenhuma indicação. Segui minha intuição e comecei a subir correndo. A primeira pessoa que eu vi foi uma super-loira com um cigarro na boca e um crachá no pescoço. Nem pestanejei e pedi informação. Ela falava um inglês lindo e me deu instruções e mandou perguntar mais a diante. Eis que voltei a correr. Cheguei num lugar sem informação nenhuma, subi uma esteira e falei “licença”. A moça pensou que eu queria passar, mas eu falei “puedes me ajudar?” e mostrei o bilhete. Ela começou a explicar onde era em espanhol, mas, do nada disse “ah,você é brasileiro. Estou indo para o mesmo lugar que você”. QUASE CHOREI na frente dela, principalmente quando ela olhou o relógio e já eram 12h37min. Pois, subimos umas quatro esteiras rolantes, descemos novamente, pegamos um metrô para chegar num mega prédio onde deveria estar meu portão. Enquanto isso, conversávamos. Ela é da Austrália, falava espanhol e português e disse que irá a Salvador na Copa do Mundo. Agradeci tanto a ela em todas as línguas que sei agradecer.

Enquanto estava correndo, alcancei uma senhora grávida, com uma sacola super pesada na mão que estava correndo (com uma bota que tinha um salto de uns 8cm) e chorando. Meu olhar biônico bateu no horário do bilhete dela: 12:30. Ao invés de correr para pegar meu voo, não, lá vou eu oferecer ajudar para carregar a mala dela. Coincidentemente, ela estava correndo para pegar o MESMO voo que eu. Tadinha. Juro para vocês que, a essa altura do campeonato, eu já estava pensando em quanto eu teria que pagar para remarcar a passagem e pensando na FÚRIA INCONTROLÁVEL de minha mãe ao saber que eu tinha me perdido no aeroporto e perdido a passagem.
Mais uma vez, Deus interviu (e não foi a primeira vez), eu cheguei no avião às 12:58 e o avião estava programado para decolar às 13h. Acabou que o voo ainda saiu atrasado. Quem me conhece deve imaginar que eu cheguei ENSOPADO de suor ao avião. Imaginem a cena: uma pessoa escorrendo de suor e com fumacinha saindo da boca toda vez que falava. Deve ter sido por isso que as pessoas estavam me olhando com cara estranha quando entrei no avião.  Coisas que só acontecem comigo...
Queria aproveitar e agradecer às (no mínimo) dez pessoas que me ajudaram a entrar nesse avião (mesmo que elas nunca leiam ou entendam o que está escrito aqui).

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Da Saída do Aeroporto Dois de Julho

Então lá estava eu na minha amargura sentimental, escrevendo o post anterior quando ouço um “Bruno!?”. Era Rosana, uma amiga dos tempos de escola da qual gosto bastante. Engraçado que, nas horas de pânico uma voz amiga acalma qualquer um, não é? Mas ela estava indo para Portugal e não ia no mesmo voo que eu. Terminei meu post, minha mãe me ligou dizendo que já estava em casa (expulsei ela do aeroporto por conta da greve da Polícia Militar), me despedi dela e fui para a sala de embarque. Obviamente, um monte de gente desconhecida e, pela primeira vez, me senti atordoado. De um lado, tinha gente falando italiano, do outro, espanhol, do outro francês e eu pensando “o bicho vai pegar”. Gastei meus últimos centavos numa ligação para meu amigo Gilberto. Ou melhor, investi meus últimos centavos numa ligação maravilhosa. Ouvi sábios conselhos, ri para me acabar e ainda deu tempo para uma discursão ideológica (viva ao Tim Infinity!!). Quando chamaram para o embarque, me dirigi à fila e, pasmem, vi aquele sorriso enorme vindo em minha direção. Era Victória (Vivissemprelinda) que pegou o mesmo voo que eu. Se ouvir uma voz amiga num momento de pânico é bom, imagine pegar um voo de 12h com uma pessoa super maravilhosa?! Foi bom que tive com quem comentar que nossas aeromoças são muito mais bonitas do que as espanholas e falar da rabugentice destas últimas. Elas pareciam não querer estar ali...
O engraçado dessa viagem foi que eu sentei ao lado de um senhor que visivelmente tinha medo de andar de avião. Na hora de decolar, o avião tremeu um bocado enquanto estava subindo e teve uma hora que ele deu uma descidinha como se não tivesse aceleração o suficiente para decolar. Resultado, aquele friozinho na barriga igual a elevador quando desce e uma menina de uns cinco anos que deu um grito agudo e exclamou “vai cair!”. O senhor do meu lado agarrou a poltrona da frente como se sua vida dependesse disso. Tentei ler um jornal da Inglaterra, mas, além de ser chato (só sobre economia) eu estava nervoso demais. Resolvi dormi. Bom, caso vocês não saibam, eu tenho muita dificuldade de dormir em minha cama, imagine num banco de um avião?! Na chegada, a moça informou que estava fazendo 2ºC em Madrid. Para quem estava pensando num frio de -23ºC, 2ºC era brincadeirinha, não é? Uma porra! Eu saí pela porta de trás, ou seja, peguei o vento da turbina bem na cara. Parecia que minha pele ia ser fatiada pelo vento! Eu e Vivis corremos para o ônibus que nos levaria para o aeroporto propriamente dito. Aproveitamos e tiramos nossa primeira foto fora das Terras Tupiniquins.

Do Frio na Barriga


Esse post, provavelmente não será postado hoje (dia 07/02), uma vez que o Aeroporto Dois de Julho não tem uma internet que preste para aqueles que utilizam seus serviços. Bom, mas eu não estou aqui para ficar apontando como as coisas em Salvador estão jogadas às traças (até porque isso seria como chutar cachorro morto).

Minha mente foi dominada ligeiramente por uma enchente de expressões que podem dar forma ao que eu estou sentindo:

Estou com borboletas no estômago.
Estou com o coração na mão.
Estou com o cu no ponto.

Ainda que essas expressões sejam bem ilustrativas, acredito que muito ainda fica de fora. Eu não faço ideia do que é isso que estou sentindo...
Uma coisa curiosa é que essa situação me fez lembrar de uma discussão que tive em sala de aula. Para mim, compreender não é sinônimo de entender. Hoje, eu acho que essa diferença é ainda mais sólida em minha cabeça.

Para mim, compreensão está muito mais ligada a uma apropriação cognitiva, a uma capacidade de apreender, racionalmente, aquilo que aconteceu, mas que você não vivenciou. Esse seria o grande diferencial no entendimento. Para mim, entender é sentir, é passar por uma experiência e assimilá-la. Você pode compreender a dor de uma pessoa, mas você só será capaz de realmente entende-la, passando por ela.

“E porque cargas d’água você está dizendo isso, Bruno?” É porque, hoje, eu entendo muito bem aquela sensação que meus amigos que já fizeram intercâmbio falaram: a ficha só começa a cair quando você entra no avião. Ainda não entrei no avião, mas o pavor já está me assolando. O pavor do desconhecido me parece, agora, um dos piores que já experenciei e a prova disso são esses arrepios que estão percorrendo as minhas pernas e a minha nuca. Esse pavor talvez só seja equiparável à “sensação de perda”: perda dos meus amigos [muito obrigado por todos(as) que lembraram e que ligaram e que me visitaram] , da minha rotina (mas a greve da Polícia Militar já tinha feito isso), do cheiro maravilhoso da minha cidade que amo muito, da brisa do mar, da comida baiana... Perda de uma vida. Além disso, ver minha mãe chorando num abraço apertado que me deu me fez lembrar que o Amor tem muitas formas e me deixou um nó na garganta que custará a passar.
Pois é, minha vida até os dias de hoje acaba hoje. Chegarei na Romênia um novo homem e sairei de lá ainda melhor do que chegarei.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Do porquê do nome do Blog

Sempre que via os blogs de meus amigos, via que o nome que eles escolhiam sempre tinha algo simbólico importante por trás. Seja uma frase marcante, ou uma ideia... Mas sempre tinha algo e eu não sabia qual seria o nome do meu. Eis que, num dia qualquer, passeando no Facebook, vi uma postagem de Luísa Vasconcelos com um poema do poeta que mais amo: Mario Quintana. Como o poema dizia tudo, e de diversas formas, roubei um pedaço dela para o nome desse blog.

Agradeço ao mestre e à enorme sensibilidade de Luísa pela inspiração.



A Verdadeira Arte de Viajar

A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.
Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!

                                                                                                                            [Mário Quintana]

Do porquê do blog


Minha história de vida aponta para o fato de que sou uma pessoa de muitos "nuncas". Eu "nunca" isso, "nunca" aquilo... A minha sorte é que, de uns tempos para cá, tenho dedicado especial atenção aos meus valores, às minhas histórias e, sobretudo, àquele que acho que sou. (Recomendo isso a todo mundo!)

Um dos meus "nuncas" está bem diante dos seus olhos: nunca tive um blog na vida. Aliás, nunca me imaginei tendo um, até porque, nunca achei que teria tanto assunto para falar a ponto de criar um blog. Como, na vida, um nunca puxa o outro, a queda de um pode favorecer a queda de outro.

Nunca estive fora do Brasil... até hoje. E esse é o grande porquê (inicial) desse blog. Dentro de pouco tempo (07/02), embarcarei na maior aventura de minha vida: vou fazer intercâmbio. E não é qualquer intercâmbio! Vou para Bucareste (capital da Romênia) trabalhar voluntariamente em um orfanato ministrando workshops sobre desenvolvimento pessoal, cultura e arte para as crianças de lá.

"Nossa, Bruno! Que fantástico! Não sabia que isso era possível!" Ora, se você não sabia que isso é possível, você ainda não conhece a AIESEC!! Procure o escritório da sua cidade e descubra como é fácil semear esperança pelo mundo! [Mas, você que é preguiçoso(a), pode começar olhando o site. Veja o da AIESEC Salvador: http://www.aiesec.org.br/site/escritorio/salvador/].

Espero que vocês tenham paciência comigo e perdoem os equívocos (de vida e de português) e sintam-se livres para comentar e fazer críticas (desde que sejam pertinentes).

Desejem-me sorte!