quinta-feira, 8 de março de 2012

Stº Dimitri ou do quarto/quinto dia de trabalho

“Amanhã, nós vamos trabalhar com as crianças”. Essa frase desestabilizou muita gente. E, para completar, era às 9h30min. Sabe as únicas coisas que funcionam em mim às 8h da manhã? Sono e fome. A experiência com as crianças do outro lugar não tinha sido boa, mas esperança é a última que morre...
Pegamos o metrô cedo e saímos. Estávamos quase uma hora adiantados andando pelas ruas cinzentas e frias de Bucareste. Pra variar, nos perdemos, ou melhor, Raluca não sabia como chegar lá e nos perdemos. Ela ligou para Irina, que descreveu o lugar, a rua e tudo o mais e disse que, quando chegássemos na rua, encontraríamos uma casa azul. Quase uma hora depois, chegamos no lugar: uma casa branca com janelas azuis. Quer dizer, se eu estivesse sozinho, iria dizer “não é aqui. Ela disse que a casa era azul”.

Primeiro choque: organização. O lugar é extremamente organizado, organizado e organizado. As pessoas demonstram ter seus papeis extremamente estabelecidos e esclarecidos, como se cada um soubesse o espaço de cada qual. Os horários de refeição são respeitados e cada coisa tem seu lugar e modo de ser feito. Além disso, as coordenadoras são muito presentes nas atividades, além de sempre instruir os estudantes muito bem, ao meu ver. Até ao dar uma dura nos estudantes, elas fazem de um jeito suabilíssimo.

No primeiro dia, fizemos uns jogos de grupo com eles e apresentamos nossos países e nossas culturas. Eles nos sugaram. Perguntaram tudo e mais um pouco. Se engajaram nas atividades e tudo o mais. Lindo foi ver todo mundo, inclusive a coordenadora que só usa saias super longas, botas longas, camisas de manga comprida (toda roupa em tons escuros) e cabelo sempre preso (quase uma freira) dançar bolimbolacho. Mais lindo ainda foi Raluca traduzindo “o corpo suado, desliza as mãozinhas” como “reunindo toda a energia”.

No segundo dia, pedimos a eles para se separarem em grupos e escolher alguma coisa que eles quisessem apresentar para nós sobrea cultura deles. Vocês acreditam que rolou até teatro com direito a figurino e cenário??? Eu quase chorei de felicidade com essas crianças. Outros grupos falaram de arte, comidas e música. Foi muito bom!




Na saída de lá, uma das coordenadoras veio até nós e agradeceu várias vezes pela nossa disposição, pelo trabalho e disse que é maravilhoso conhecer a cultura de países tão distantes através de nós e falou da importância disso para as crianças. Obviamente, as mesmas lágrimas que estão me entalado agora, me entalaram no momento que ela disse isso. É muito bom se sentir útil.

De tarde (na quinta), fomos ao outro SOS. O dia não poderia ter sido melhor. Apresentamos nossos países, como era o foco da semana, depois tivemos um bate-papo com eles e fizemos algumas atividades. Eles se empenharam bastante na atividade e demandaram um monte de nós. Eles querem que, um dia, façamos um dia de culinária típica. Parece que as coisas serão bem interessantes.

Do terceiro dia de trabalho

Fomos ao SOS de Mundi. Como a nossa recepção lá não foi muito boa e a experiência do dia anterior não foi lá essa maravilha, estávamos um pouco mais apreensivos do que o comum. Para a nossa surpresa, eles pareciam estar também, como se estivessem prontos para nos sondar e saber porquês estávamos lá. Apresentamos sobre os nossos países e ensinamos a eles algumas danças. Eu simplesmente amo a dança que Erin ensina. É uma dança formal indonésia e é algo como oração e pedido de proteção e graça a Deus. É linda. Eles tentaram e se acabaram de rir porque a dança é complicada pra caramba. Depois, era minha vez. No da anterior, eu quebrei bem a minha cabeça. Bem, eu não gosto (mais) da música de Michel Teló, não sei dançar forró, lambada, salsa ou afins... O que eu poderia fazer? Bom, a ideia não me agradou muito, mas eu gosto e acho engraçado, então, fiz minha escolha: vou ensinar pagode!!!! Cá entre nós, fiz uma boa escolha. Baixei “Bolimbolacho” que é uma dança tranquila, sem coisas sexuais e é engraçada. Resultado: TODO MUNDO adorou. Erin não para de cantar (do jeito dela, é claro) e Irina tá falando em fazer dessa música o nosso roll call.

Depois, era a vez deles nos ensinar algum música ou dança. Eles nos ensinaram danças típicas da Romênia e, a mais curiosa parte: eles nos ensinaram danças ciganas. Aqui, na Romênia, os ciganos são bastante discriminados ( no Brasil, eles também são). Por isso, achei bastante curioso e interessante. De fato, esse é meu primeiro contato verdadeiro com algo da cultura cigana. Difícil foi sair de lá. Eles não paravam. É bastante interessante ver o resultado de algumas horas de trabalho quando você demonstra querer saber mais sobre uma pessoa e sua cultura. Eles estavam sedentos por mostrar o que eles têm de único e especial.

Do segundo dia de trabalho

Tentarei ser breve.
Na terça, fomos para o Stª Maria. Esse é o orfanato no qual trabalharemos todas as segundas e terças. Nele, só moram meninas e aquelas com as quais trabalharemos têm entre três e 15 anos.

O primeiro problema que enfrentamos já era esperado: as crianças são muito carentes. Elas já vieram nos abraçando, falando sem parar e não largavam quem eles abraçavam. Mas esse não era o problema. O problema, de fato, é que todo mundo cedeu, menos o cara que dizem ter gelo no lugar do coração: eu. Pode parecer maldade, frieza ou qualquer coisa parecida, mas eu sei que, nesses casos, além de carinho e afeto, eles precisam de organização e disciplina, e eu agradeço à minha mãe e às professora Rejâne, Rosiemere e Yukari por isso. Meio mambembe, fizemos nosso trabalho e, ao final, todos estavam exaustos e deprimidos, um, porque trabalhar com esse público nos faz nos sentirmos impotentes diante de tudo aquilo que elas demandam, dois, porquê a seção foi um fracasso. Eu, todavia, sai contente, porque elas estavam super interessadas em saber mais sobre o Brasil e Indonésia, então, acho que nós deixamos alguma sementinha na cabeça delas, algo nosso.
Depois, Raluca nos convidou para sair. Fomos para um dos poucos lugares no qual fumar é proibido. Dá para imaginar que lugar é esse, não é? Era uma casa de chá!! Eu simplesmente adorei o lugar. E olhe que nem sou fã de chá. Mas o lugar é lindo, limpo, cheiroso, agradável, com uma linda música de fundo, gente bonita e elegante... Peguei um chá de frutas roxas e uma torta de frutas silvestres naturais da Romênia e brinquei de ser feliz.


A torta.


Raluca, que não dá ponto sem nó, começou a trabalhar conosco. Ela é do time de gestão de treinees e a função dela é garantir que tenhamos a melhor experiência possível.  Ela fez duas bombásticas e simples perguntas: vocês perceberam que vocês só têm mais quatro semanas aqui? Vocês já planejaram tudo o que querem fazer?
Sério: fiquei meio minuto em silêncio e choque.

Peguei um papel e comecei a escrever TUDO o que eu queria fazer aqui. Escrevi em português, porque eu sou lindo. Discutimos um pouco e... perdemos o metrô.
Vocês não sabem, mas, Erin, Ruri e eu somos mestres em perder o último metrô. Sorte nossa, aqui, taxi é baratíssimo. Fomos pro hotel e eu fiz o que mais detesto: abri o excel. Programei minha vida até o dia 24 de março, que é o dia do meu retorno a Salvador. Isso vai ser legendário.

Do primeiro dia de trabalho

Bom, não foi bem “primeiro dia de trabalho”. Irina nos chamou para conhecer dois (dos quatro) lugares que trabalharemos: o SOS Sateca Capiilor. Lá, estão jovens que, ou não têm pais, ou tem pais muito pobres que não podem cuidar deles. Eles moram no lugar (são quartos separados) e estudam (escola ou faculdade). Foi um ótimo primeiro contato. Nós estávamos (como eu acho que é normal) bastante apreensivos. Limite de língua, diferenças de modo de pensar e tudo o mais. 

O primeiro lugar que visitamos foi o SOS Sateca Capiilor de Obor. Eles nos receberam SUPER BEM. Tudo bem, só tinham quatro pessoas lá, mas eu gostei. Eles tinham entre 16 e 20 anos e estavam sedentos de informação sobre nós. Aproveitamos para saber as expectativas deles. De praxe, eles me fizeram dançar “assim você me mata” (não suporto mais essa música).

O segundo lugar, foi o SOS Sateca Capiilor perto da Piaţa Mundi. Eles estavam em maior número e quase não nos deixaram falar. Foi (e acho que será) um desafio trabalhar com eles. Um deles não parava de perguntar sobre os atributos das mulheres brasileiras e o quarto dele foi o único que não conhecemos porque ele disse que as paredes estavam cheias de fotos inapropriadas para as meninas que do grupo (fica a dica). Além disso, eles comentaram sobre a prostituição aqui e falaram que eu ia adorar as mulheres romenas. Exaustos, fomos para o hotel preparar o trabalho para o dia seguinte: Orfanato Santa Maria.


SOS Sateca Capiilor de Obor

Dos TTT

TTT significa “Training to Trainers”, em outras palavras, é um treinamento que o pessoal da Aiesec Bucareste dá a pessoas que treinarão outras pessoas. Foram quatro dias (15-18/02) de muito trabalho e sofrimento. Sofrimento porque, todos os dias os treinamentos começavam às 8h da manhã, o seja, tínhamos que acordar bem cedo, e os treinamentos terminavam 20h ou 20h30min. O espaço de almoço era de uma hora e foi uma correria enlouquecida.

Apesar da exaustão, tive seções maravilhosas. No primeiro dia, as coisas forma mais focadas em como se comportar diante da audiência, body language, contato visual, diferenças culturais, aceitabilidade das diferenças e percepção de pontos em comum entre as culturas. Para mim, isso foi particularmente fácil. Com as minhas experiências de vida e depois de um ano trabalhando na Aiesec Salvador, eu já tive tempo (e experiências) o suficiente para perceber que todas as culturas sempre serão diferentes, mas sempre terão pontos em comum e é no que é comum que podemos nos entender e é no diferente que podemos construir coisas maravilhosas.

O segundo dia de treinamento foi mais focado em como devemos planejar as seções e nossos trabalhos, como trabalhar com o público, técnicas para tentar envolver o público, mas o foco foi mais em planejamento, por isso, foi bem mais chato.

 





Mas era sexta-feira, então, vamos para um pub! Fomos. Rimos um monte, cantamos, gritamos e alguém disse “já são 2h! Amanhã, temos que acordar cedo!”. E outro disse “pra quê dormir?”. Mas eu não sou louco nem nada, fui lindo pro meu hotel tirar minhas merecidas e parcas horas de sono.




No dia seguinte, foi mais relax. Começamos às 8:30min e a oficina foi com uma psicóloga que trabalha em psicooncologia. Ela falou das dificuldades e dos prazeres de trabalhar com crianças em situações delicadas além de falar de algumas teorias de desenvolvimento e técnicas que poderíamos usar com as crianças no orfanato no qual trabalharemos. Em seguida, veio uma psicóloga que trabalha com arte e nos ensinou a fazer algumas coisas que poderemos ensinas às crianças. Depois, ela nos contou uma lenda de Mărţişoare e da tradição aqui na Romênia.

A lenda fala que, um dia o Sol tomou forma humana e resolveu caminhar em uma vila. Perto dessa vila, morava um dragão que ficou com inveja do brilho e do calor do Sol. Por isso, ele capturou o sol e o fez prisioneiro. As pessoas do vilarejo ficaram muito tristes porque não tinha mais o sol para iluminá-las. Assim, um guerreiro bravo e destemido (e ela fez questão de dizer que ele era muito bonito) resolveu ir salvar o Sol. Ele caminhou durante o verão, o outono e o inverno (não sei como as estações existiram sem o Sol, mas...) até chegar na caverna na qual o dragão morava (Caverna do Dragão – tum-tum-pá!). Lá, ele lutou bravamente contra o dragão, venceu e libertou o sol, mas, ele foi gravemente ferido e morreu. Seu sangue se misturou com a neve e, dela, nasceram as Snowdrop, que são as flores que simbolizam o início da primavera e Mărţişoare. Daí, criou-se um hábito (que eu não sei a conexão) dos homens presentearem as mulheres que amam ou admiram. Na Moldóvia, são as mulheres que presenteiam os homens.
O Mărţişoare é comemorado no dia primeiro de março, por isso, resolvemos ensinar as crianças a fazerem seus presentes.


No último dia de treinamento (domingo), tivemos uma seção com um psicólogo que trabalha num dos centros sociais que iremos trabalhar. Foi, de longe, a melhor seção. Ele nos fez nos sentirmos como se fôssemos as crianças e adolescentes com os quais trabalharemos. Foi uma manhã punk! Todo mundo saiu calado e reflexivo, menos Erin que se apaixonou pelo facilitador da seção. Aliás, isso virou motivo de piada (hehehehehe).
Depois, tivemos uma simulação na qual apresentamos uma das nossas seções planejadas. Resultado, cheguei morto no hotel e não quis saber de festa nenhuma.

Dos dias 14 e 15


Ainda no dia 13, me chamaram para uma guerra de neve no dia seguinte.  No dia 14, depois de uma conferência intensa, o que todo mundo queria era uma cama fofinha e um chocolate quente. Eu não: quero é mais. Cheguei no hotel, tomei um banho, comi alguma coisa e corri para a noite. Foi a noite mais engraçada do mundo. Vi meninas serem lançadas no meio da neve e serem soterradas por várias mãos, vi gente distraída comendo neve, vi nada porque havia neve no meu olho, mergulhei na neve... Resultado 1: tinha neve até dentro da minha cueca. Tive que tirar o sapato para tirar as pedras de gelo que havia dentro dele. Resultado 2: faz mais de uma semana que estou resfriado. Depois disso, fomos a um café, tomar algo que nos esquentasse o sangue. Cheguei tarde no hotel e fui dormir.

Tá frio?



Brincando de nadar na neve. =)


No dia 15, Ruriana (da Indonésia – Enrole bem os dois ‘r’) chegou. Ela está aqui para trabalhar no mesmo projeto que eu: o C.H.A.N.G.E. Fomos recepcioná-la no aeroporto. De lá, pegamos ônibus e metrô para chegar ao escritório da AIESEC, onde deixamos a mala dela para irmos almoçar. Eu não sei como a mala dela consegue ser menor que a minha e ter quase o dobro do peso. Coisas de mulheres... (hahahahahahaha)

A neve ainda estava alta, mas foi tudo bem. O almoço foi tranquilo e começamos a nos conhecer. Rimos um bocado, conversamos mais ainda. É muito bom saber que existem muitas pessoas legais espalhadas pelo mundo, mas melhor ainda é saber que você pode encontrá-las um dia. Na volta para o hotel, olhei pro céu (o que, aliás, é um hábito meu). Havia uma quantidade inimaginável de pássaros fazendo o estardalhaço. Pela segunda vez em uma semana, me senti num filme, só que, esse era um daqueles em que o mundo vai acabar e os animais começam a se comportar de forma estranha. Mas tinha que correr porque o semáforo estava aberto e eu não queria virar panqueca aqui em Bucareste. No hotel, Ruri mostrou a infinidade de coisas lindíssimas que ela trouxe da Indonésia. Uma coisa mais bonita que a outra. Até ganhei presente!! =)